No dia 20 de setembro deste ano, o Ministério da Educação (MEC) divulgou em Brasília, em primeira mão, os dados do Censo da Educação Superior 2017, a maior fonte de informações e dados estatísticos da educação superior no Brasil. O documento aborda a oferta e o desenvolvimento da graduação, alguns dados da pós-graduação (stricto sensu), perfis de alunos e docentes, questões vinculadas ao financiamento do ensino privado e vários outros aspectos do setor.
Este vasto conjunto de informações certamente será muito estudado por especialistas do setor nos próximos meses. Para colaborar com este exercício, extraímos de imediato alguns componentes que podem ajudar na leitura do cenário brasileiro de educação superior:
QUEM É MAIS RICO ESTUDA MAIS:
Os 25% da camada de pessoas mais ricas do Brasil tem em média 13,1 anos de estudo. Os 25% mais pobres tem 9,5 anos de estudo em média. Os homens pela primeira vez estão abaixo da média Brasil: 10,9 anos.
ENSINO MÉDIO EM BAIXA:
Há 8,9 milhões de jovens entre 18 e 24 anos no Brasil que concluíram o ensino médio e não seguiram os seus estudos. Em 2017 perdemos mais de 200 mil matriculados no ensino médio - o que certamente afeta o ensino superior.
ENSINO SUPERIOR COM ESPAÇO PARA CRESCER:
Estamos com apenas 16% da população de 25 a 34 anos com ensino superior no Brasil. Um avanço considerado muito baixo em relação à geração anterior.
Lembremos que a meta do PNE é que até 2024 a taxa líquida da população de 18 a 24 anos que esteja no ensino superior seja de 33%.
AUMENTA O NÚMERO DE IES E DE CURSOS:
Agora são 35.380 cursos ofertados em 2.448 IES, sendo 2.152 são privadas.
HÁ MAIS ALUNOS NO ENSINO SUPERIOR QUE NO ENSINO MÉDIO. CONTINUA A HAVER MUITO MAIS ALUNOS PRESENCIAIS QUE EAD E MUITO MAIS ALUNOS NAS PRIVADAS QUE NAS PÚBLICAS:
Há 8.266 milhões de matrículas no ensino superior, número maior que a quantidade de estudantes no ensino médio, que apresenta queda. Destes, 78,8 % dos graduandos estão no ensino presencial e 21% no ensino a distância, somando 1.756 milhão de matriculados.
A rede privada continua crescendo e é o que tem dado amplitude ao ensino superior brasileiro, já que representa 75% do ensino de graduação.
HÁ MUITO MAIS VAGAS QUE INGRESSANTES. SOBRAM VAGAS NAS PÚBLICAS:
3.226 milhões de jovens ingressaram no ensino superior em 2017, sendo 1.129 milhão de concluintes.
10.779 milhões de vagas foram ofertadas em 2017, sendo 823 mil na rede pública e 9.950 milhões de vagas são na rede privada.
Do total, 6.045 milhões de vagas foram presenciais e 4.703 em educação a distância.
Vagas ocupadas totalizam 3.226 milhões, na rede federal ingressaram 380 mil e 2.636 milhões na rede privada.
Das mais de 90 mil vagas remanescentes da rede pública, pouco mais de 30 mil foram utilizadas.
A média de ocupação de vagas na rede privada é de 32%
QUASE 50% DOS ALUNOS DAS PRIVADAS TEM ALGUM TIPO DE BOLSA OU FINANCIAMENTO
Falando em financiamento estudantil, 609 mil estudantes em 2017 foram atendidos pelo PROUNI (Programa Universidade para Todos) e 1.070 milhão pelo FIES (Financiamento Estudantil). Isto significa que 46% dos alunos da rede privada possuem algum tipo de benefício (bolsa ou financiamento) gerado pelo governo.
O governo federal permanece sendo o maior financiador da educação superior mesmo dentro da rede privada, em razão do PROUNI e FIES.
TEORIA DE PARETO - A MAIOR PARTE DOS ALUNOS ESTÁ NA MENOR QUANTIDADE DE IES:
Das 2.448 IES há 2.020 Faculdades, 199 Universidades, 189 Centros Universitários, e 40 Institutos Federais no Brasil. Observa-se que 82% das IES tem apenas 25% das matrículas totais. Já as universidades, que representam apenas 8% do total de IES, concentram 53% do número de matrículas.
ALUNOS DAS PRIVADAS ESTUDAM A NOITE
O perfil dos estudantes varia muito da rede privada para a rede pública. O aluno diurno cresceu em 2017 e consequentemente diminuiu o noturno, mas este ainda é o turno que mais concentra matrículas. Na rede federal apenas 30% estuda à noite, contrapondo a rede privada onde quase 70% dos alunos estudam à noite.
DIREITO É O MAIOR CURSO DO BRASIL
Os dez maiores cursos de graduação representam 49% do total de matrículas, sendo Direito o maior curso com 879 mil alunos.
AMPLIAÇÃO DO ATENDIMENTO DA REDE PÚBLICA
Era esperado que a rede pública apresentasse uma ampliação do atendimento, fomentada pela evasão da rede privada, tendo em consideração a crise econômica pela qual passa o Brasil. Este aumento se comprova tanto no ensino presencial quando na modalidade à distância.
A FORÇA DA EAD
A crise econômica, a nova regulamentação da EaD e a maior maturidade dos players já atuantes no mercado, compõem a base de sustentabilidade de crescimento da EaD, tanto na rede pública quanto na privada.
DESAFIOS PARA A MODALIDADE PRESENCIAL
Na rede privada, com o segundo ano em queda para o número de matrículas, ainda podemos esperar para o Censo de 2018 valores muito próximos aos de 2017. Para 2019, tudo indica que teremos um ano com relativa dificuldade para melhoria na captação de matrículas, pois a captação evidencia forte correlação com a disponibilidade de novos postos de trabalho.
No quadro abaixo está a evolução das matrículas dos últimos cinco Censos, o que retrata bem o cenário e o comportamento mercadológico da educação superior no Brasil.
Percebemos muitos desafios para a educação superior no Brasil, também pelo fato de que em 2019 teremos uma nova configuração de Governo. Mas vale a ressalva: todo cenário de desafio também apresenta oportunidades. A melhor forma de estar pronto para essas configurações de cenários é ter conhecimento técnico do seu próprio mercado e uma estrutura estratégica e profissional de atuação.
Seja para um player pequeno, médio ou grande, nossa realidade de mercado mudou. Não é lógico esperarmos bons resultados se continuarmos aplicando as mesmas estratégias ultrapassadas.
Cibele Schuelter
Consultora da Hoper Educação
Paulo Presse
Coordenador da área de Estudos de Mercado
EXPEDIENTE:
Revisão: Maria Luiza Zarro e Márcio Schünemann – Diagramação: Mariana Andrade - Gráfico - Mariana Andrade
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